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A Inteligência Artificial

 

A Inteligência Artificial está em vias de superar a Inteligência Humana



Vivemos numa época em que é cada vez mais importante entender a diferença entre gradual e repentino. Gradual é algo que avança ou progride conforme graus contínuos, isto é, gradativamente, enquanto repentino é o que acontece de maneira súbita e, às vezes, de forma inesperada.

Pode-se dizer que é o que isso é o que está ocorrendo hoje com o trabalho, e mais especificamente com o futuro do trabalho. Como se percebe, os seres humanos estão perdendo gradualmente seus postos de trabalho e, de repente, já não terão mais nenhum emprego em certos setores da atividade humana. Como exemplo, pode-se pensar nas pessoas que trabalhavam nos bancos e, aos poucos, foram sendo dispensados até que de repente não se verá praticamente nenhum ser humano atendendo aos clientes.

Mas, afinal, quando é que todas as pessoas do mundo estarão usando a Internet?

Especialistas estimam que uma vez que as taxas de adesão à rede estão caindo, essa universalização não acontecerá antes de 2060…. Claro que o futuro não é só “gradual e repentino”, no que tange à utilização das tecnologias. Isso está agora acontecendo de forma assustadora com o trabalho que será feito pelos seres humanos, devido às transições provocadas pelas transformações tecnológicas.

Começou em alguns setores de forma lenta, mas em vários deles está chegando de repente, quando a atuação do ser humano está sendo dispensada (pense no carro autônomo daqui a dez anos…)

Observando as estatísticas das últimas duas décadas pode-se dizer que os seres humanos ainda gastavam cerca de 100.000 h de sua vida no trabalho, e agora no presente e em especial no futuro, esse número deverá cair muito, em vista das mudanças rápidas e radicais que estamos passando no mundo profissional. Claro que sem um trabalho formal os seres humanos terão que se adaptar a uma nova realidade na vida, serem mais resilientes e envolverem-se nas suas horas ociosas (que serão em número cada vez maior) com atividades mais ousadas, mais criativas, que as máquinas, mesmo as “inteligentes”, não sejam capazes de realizar.

Por exemplo, hoje existe na Índia uma empresa, a 7.ai (que já se chamou 24/7), cuja principal atividade é responder a chamadas de atendimento ao cliente e vender produtos, como cartões de crédito, para empresas dos Estados Unidos da América (EUA), um país que fica bem longe da sua sede localizada em Bangalore, considerado o Vale do Silício indiano.

Pois é, nela uma boa parte das perguntas são geralmente respondidas inicialmente por um chatbot ou “agente virtual” (um software que simula um ser humano utilizando o sistema Aiva – assistente virtual artificialmente inteligente), alimentado por IA (inteligência artificial), com o que de repente não se precisa de seres humanos para que ocorra essa “conversação”. Porém os seres humanos não foram todos eliminados e a eles é repassada a conversa quando o agente virtual trava ou não consegue responder. Nesse caso entra em ação a inteligência humana (IH), que ainda é usada (!?!?), mas gradualmente está sendo dispensada à medida em que se aumenta a capacidade da IA.

Recorde-se que tanto nos EUA como na Índia (e inclusive no Brasil), as classes médias se formaram em cima do que se pode chamar de trabalho de alta remuneração e qualificação média. Entretanto, num mundo orientado pela IA, esses empregos estão sendo extintos. Hoje o que está bem claro é que ainda há alguns trabalhos com salários elevados para seres humanos muitos talentosos e qualificados, assim como empregos com salários bem pequenos para os pouco qualificados (em especial nos países mais pobres ou em desenvolvimento) e um número cada vez menor de vagas entre os dois extremos!?!?

Especificamente na empresa 7.ai, quase todos os seus operadores possuem diploma universitário, pois precisam ter condições de escrever textos com boa gramática em inglês e compreender a interação entre o agente virtual e a pessoa que está ligando. Eles também precisam se comunicar com perícia e empatia (uma qualidade totalmente humana…) quando o agente virtual não consegue dar prosseguimento ao atendimento.

É nesse ponto crítico que o agente humano não apenas precisa intervir, mas também “registrar as dúvidas que “enganaram” ou “confundiram” o robô e repassá-las aos cientistas de dados da 7.ai, que então as transformarão em uma camada nova e mais profunda de IA, que permita que a Aiva responda a essas indagações na próxima vez e se torne gradualmente cada vez mais “inteligente”!!!

Os cientistas de dados que elaboram as atualizações para os agentes virtuais são chamados de “designers de conversação digital”. Já os analistas que ajudam a desenvolver assistentes virtuais que falam com os clientes são designados como “designers de voz”.

Um termo que ficou muito importante nos dias de hoje é “contenção”, ou melhor, “taxa de contenção”, com a qual se mede até que profundidade pode ir a conversa com um dispositivo eletrônico inteligente, antes que ela tenha de ser transferida para um ser humano para ser concluída. Portanto, a “taxa de contenção” indica os atendimentos que ficam somente com a IA.

Atualmente a taxa de contenção da 7.ai varia de 20% a 50%, mas a sua meta é chegar rapidamente a 80%. A medida que os chatbots forem evoluindo até serem capazes de atender bem a maioria dos clientes, os seres humanos qualificados deverão ser realocados para serviços mais complexos. A dúvida que fica é “quais serão esses serviços mais complexos?”

Um fato que ninguém deve desconhecer é que a tecnologia ao mesmo tempo que faz desaparecer empregos para os seres humanos também possibilita que sejam feitos outros por eles de maneira mais eficiente. Isso é o que já está ocorrendo na Índia, com a instalação de uma nova rede de telefonia móvel de alta velocidade chamada Jio, que aliás nos últimos dois anos permitiu que ocorresse uma drástica redução no preço da conectividade dos celulares.

De fato o que aconteceu na Índia foi a intensa difusão do smartphone barato, conectando aqueles que ganham muito pouco por dia e oferecendo-lhes um dispositivo que pode amenizar a pobreza em que vivem, ou até livrá-los dela. Neste sentido, uma empresa indiana, a Lean Agri, usou a IA para criar um aplicativo (app) simples para melhorar a produtividade dos agricultores indianos de baixa renda. Esse app cria um “calendário dinâmico” que informa corretamente as quantidades de água, fertilizantes e sementes que devem ser usados no plantio, baseando-se nas mudanças climáticas. Mais de 15 mil agricultores em três Estados da Índia que usavam esse app conseguiram triplicar suas receitas!!!

Já os catadores de lixo – os mais pobres estre os pobres nas cidades indianas – foram treinados rapidamente no uso de um software que os auxilia a localizar e coletar as montanhas de lixo que flutuam nos rios e lagos indianos, o que lhes permitiu em um curto período de tempo recolher toneladas de lixo e assim ganhar mais dinheiro com essa prática!!!

Portanto, não se deve considerar que está ocorrendo uma luta entre a IA e a IH. Ao contrário, se tudo der certo haverá entre ambas uma interação que será positiva para os dois lados – como nos exemplos indianos. Será uma boa oportunidade para os menos qualificados subirem na vida. Será também uma possibilidade de melhoria de padrão para todos aqueles menos favorecidos no nosso País e em outras nações.
Muita gente acha que transformação digital é usar computadores para fazer o que fazíamos antigamente, com métodos tradicionais. Não! Não!! Não!!! Transformação digital é algo que agora se aplica a toda a economia. Em negócios isso é uma mudança drástica na forma como se desenha (design), produz, entrega e vende um produto ou serviço, como se constrói um ecossistema em torno disso.

Por exemplo, hoje, todos os aviões do mundo são criados digitalmente. São projetados em três dimensões (3D) e passam por simulações e testes digitais antes de finalmente serem produzidos. Assim, a digitalização permite chegar ao mundo real a partir de uma versão virtual.

Ninguém mais faz um projeto virtual em 3D para depois fazer uma maquete e utilizá-la como molde para a produção. Hoje é o virtual que comanda. Agora um operário munido de impressão 3D pode fazer uma simulação técnica sofisticada que há anos só podia ser feita por um time de engenheiros. Isso é interessante, mas ao mesmo tempo bastante preocupante para o engenheiro, que pode ser trocado por um técnico, com o trabalho do qual se reduzirá os custos de um projeto.

Isso indica complicações no futuro no trabalho dos engenheiros, que vão ter que entender mais do negócio, vão ter que ser mais criativos, pois, do contrário, poderão ficar desempregados… Vivemos agora sem dúvida na era da IA, a mãe de todos os saltos tecnológicos, que vem chegando nas ondas cada vez mais rápidas da 5G. Trata-se de uma combinação perfeita entre um substantivo indiscutivelmente positivo – inteligência – e um adjetivo quase sempre encarado como negativo – artificial.

E de fato, toda tecnologia nova sempre tem algo de negativo, dependendo de sua aplicação. Por outro lado, há em relação ao termo “artificial” uma óbvia intenção humana de demonstrar que a IH é superior a IA. Aliás, isso segue a mesma linha de raciocínio que já utilizamos para o termo “virtual”, referindo-se ao mundo digital, quando o mesmo já era uma parte imensa, crescente e determinante do mundo real.

Da mesma forma como a realidade dita virtual é cada vez mais parte da realidade, a IA é cada vez mais parte das decisões inteligentes tomadas pelos seres humanos. Note-se que é cada vez mais comum o uso da IA na gestão de ações judiciais, ou seja, os escritórios de advocacia utilizam atualmente plataformas tecnológicas que lhes proporcionam uma análise de dados mais detalhada que a oferecida pelos advogados iniciantes. Assim, agora com o auxílio da IA, é possível delinear o perfil de tribunais e magistrados, mensurando, objetivamente, as possibilidade de êxito das causas, conforme as teses e os entendimentos adotados pela corte!?!?

Ninguém mais pode se iludir, pois os seres humanos estão sendo substituídos por máquinas em diversos trabalhos manuais ou artesanais e o mesmo está acontecendo em trabalhos intelectuais!!! O ser humano foi o mestre indiscutível do aprendizado e da solução de problemas, dono de um intelecto colossal que lhe deu e ainda dá condições de descobrir maravilhas e inventar tantas coisas incríveis nos mais variados campos, mas agora chegou-se a uma situação bem embaraçosa, pois tudo indica que a IA em breve superará a IH.

Claro que como consequência isso poderá acabar em um desastre, ou talvez seja uma grande benção para a humanidade e para as futuras gerações. Provavelmente será um pouco de cada coisa, de acordo com o que fizermos da IA.

O famoso físico Stephen Hawking (1942-2018), previu que a IA poderia se tornar o pior ou o melhor acontecimento histórico da humanidade, quando disse: “Ainda não sabemos se seremos ajudados, ignorados, marginalizados ou até mesmo destruídos pela IA!!!” Mas Hawking também se mostrou otimista com as enormes vantagens que a IA ofereceria aos seres humanos.

E de fato, eu particularmente me sinto otimista e mais produtivo quando recorro ao assistente pessoal do Google (e há vários outros que também são úteis…), um sistema de IA controlado por voz, que me ajuda rapidamente a esclarecer dúvidas e a obter dados e informações para os novos livros que estou escrevendo, sem a necessidade de recorrer a dicionários, enciclopédias ou outros materiais impressos, como costumava fazer no passado.

Jack Ma, o cofundador e presidente executivo da Alibaba, recentemente declarou que precisamos ensinar as crianças a serem mais criativas para que possam fazer as coisas que as máquinas não podem fazer. E vamos torcer para que elas nunca possam fazer certas coisas!?!?

Porém, as máquinas serão cada vez mais parte da equipe humana na execução de quase todo tipo de projeto, programa ou iniciativa estratégica. E ninguém deve se espantar, pois a cada mês (quase de repente) vamos ver mais e mais tarefas e funções sendo mais bem executadas por máquinas que por seres humanos.

Mas o importante é entender que isso liberará as pessoas para que façam as coisas que só elas são capazes de fazer: aplicar julgamento, compreensão e conhecimento e, o mais importante, usar de sua sabedoria!!! Portanto, ao invés de temer a presença das máquinas, devemos abraçá-las e destacar o valor que elas nos proporcionam, sem perder de vista o valor que só os seres humanos podem oferecer.

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